domingo, 6 de julho de 2014

O "Mesmo" não é um inimigo - A oração de Agur

"Duas coisas te peço; não mas negues, antes que morra: Alonga de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza: dá-me só o pão que me é necessário; para que eu de farto não te negue, e diga: Quem é o Senhor? ou, empobrecendo, não venha a furtar, e profane o nome de Deus." (Pv 30.7-9)

Um dos grandes males da humanidade, desde a sua criação, e que foi a sua ruína, bem como o infortúnio de suas dores, foi a necessidade do “mais”. Quando Deus criou o homem e a mulher, lhes deu tudo o que uma pessoa necessita para a sua sobrevivência e mantimento. Colocou-lhes em um jardim de terras maravilhosas, rodeado de animais, água e toda espécie de plantas, sendo que estes seriam para mantimento de seus corpos. Além de tudo isso, lhes concedeu o domínio sobre toda a criação (Gn 1.28-30).

Mas, no momento do pecado, isso tudo não lhes foi por satisfação ou gratidão. Adão e Eva caíram no enlace do querer mais. Não bastou a eles a sua capacidade sobrenatural de terem sido formados a imagem e semelhança do Criador. Eles quiseram mais. E, por conta disso, da busca do “mais”, caíram diante da tentação de Satanás e perderam tudo o que haviam ganho.

O mesmo tem acontecido desde então com todos os homens de todas as épocas. No mundo materialista que se criou desde então, um esforço tremendo tem sido feito pela humanidade de ter mais do que possuí. Nunca estamos satisfeitos com o que temos, pois precisamos de mais. Nos dias de hoje, milhões de reais são gastos todos os dias para que esta mensagem nos seja passada: “Fique triste e insatisfeito com a sua vida”.

Isso mesmo. Esta mensagem está incrustada em todas as mídias e propagandas a que somos bombardeados a todo o momento. Em todas elas, a mensagem do “tenha mais” está latente, com pessoas ícones nos solicitando desembolsar quantias e esforços enormes, a fim de adquirirmos mais a fim de sermos melhores através destas aquisições.

Não importa o tamanho de sua remuneração, a mensagem que a mídia nos passa é que existe “mais” a sua espera. Isso lhe trará maior benefício e status diante da sociedade. Inclusive, a sua colocação nesta sociedade se dá por conta do tamanho do seu bolso, e não do seu caráter. Diante deste bombardeio diário, o homem sai de forma inconseqüente atrás dessa satisfação que está logo ali, basta alcançar seu cartão de crédito para que seus problemas estejam resolvidos; momentaneamente. Pois amanhã, novos produtos chegarão e a sina do mais recomeçará.

Gastamos recursos para satisfazer uma necessidade insana de nossa carne. Compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos, para impressionar pessoas que não conhecemos. Essa é a triste realidade dos homens no dia de hoje. Buscamos suprir com o material o vazio que arde dentro de nós, como se isso fosse uma droga da qual precisamos nos alimentar com doses cada vez maiores, pois nosso corpo precisa disso.

A atitude de se concentrar somente no material desgasta e corrói a gratidão que deveríamos ter por tudo aquilo que Deus nos chamou a manter, cultivar e demonstrar. É Ele que nos supre quando colocamos o nosso coração diante do Seu altar.

A Palavra de Deus é clara e não deixa dúvidas de que Deus cuida de nós: “E te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conheceste, nem teus pais o conheceram, para te dar a entender que o homem não viverá só de pão, mas que de tudo o que sai da boca do SENHOR viverá o homem” (Dt 8.3).

A ingratidão humana é o ato mais sério que o homem carrega desde que pecou e foi retirado do Éden. Deus criou o homem para ser abençoado. Este foi colocado para dominar toda a criação, mas por sempre querer MAIS, acabou perdendo o seu rumo e a vida eterna. Por conta do mais, perdemos o maior bem que podemos querer nesta vida: a eternidade. Tanto que hoje, a maior busca do ser humano é por este bem preciso, sendo que o homem tenta trilhar o caminho do resgate apartado de Deus. Todos querem o MAIS perdido, mas ninguém quer o MESMO da submissão a Deus.

A eterna insatisfação do homem acaba colocando-o em uma jornada aleatória, sem rumo certo, no intuito de suprir a necessidade perdida. O homem, no intuito de justificar a sua insatisfação e tapar o “buraco” deixado pela perda da comunhão, acaba embrenhando-se por caminhos que podem levar ele a perder mais ainda do que já perdeu.

O homem reclama de seu emprego, que não lhe dá o sustento necessário, mas nada faz para se consolidar e crescer no que possui. O homem reclama que a sua família não lhe traz alegrias, mas nada faz para torná-la agradável e desejável. O homem reclama de seu orçamento apertado, mas nada faz para se municiar com instrumentos que lhe proporcionem um aumento. O homem reclama de sua Igreja, mas nada faz para que esta seja o seu templo de adoração a Deus e vivência da comunhão cristã. O homem reclama de sua vida, mas nada faz para que esta seja proveitosa para si e para os que o cercam.

Queremos sempre o que não podemos ter; pensamos sempre naquilo que não temos; dedicamos muito tempo para o quanto precisamos e esquecemos de TODAS as bênçãos que Deus nos deu ao longo de nossas vidas. Esquecemos da SALVAÇÃO; esquecemos de nossa CASA; esquecemos de nossa FAMÍLIA; esquecemos de nossa IGREJA; esquecemos que Deus soprou em nós o Fôlego de Vida, sendo este um bem tão precioso que delegou somente a nós, seres criados a imagem e semelhança da Trindade.

Movemos um grande tempo em busca da satisfação temporária, que esquecemos tudo o que Deus nos prometeu: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração. A candeia do corpo são os olhos; de sorte que, se os teus olhos forem bons, todo teu corpo terá luz; se, porém, os teus olhos forem maus, o teu corpo será tenebroso. Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes são tais trevas! Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas. Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? (Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal (MT 6.19-34).

Esta palavra de Deus nos chama a atenção para que venhamos a confiar mais em Deus e na importância de Sua comunhão para conosco. Nosso coração deve estar nas coisas do alto e não nas coisas terrenas; nas preocupações diárias; no corre-corre em busca do mais, o qual nunca irá suprir as nossas reais necessidades.

Desafiamos o homem. Desafiamos a que se arrisquem a ter mais:

  • Contentamento, em vez de consumo;
  • Satisfação, em busca por mais;
  • Mais gratidão, em vez de gratificação;
  • Descanso no que temos, em vez de perturbação com o que não temos;
  • Relações pessoais, em vez de competição pessoal;
  • Doar mais para Deus, em vez de adquirir superficialidades;
  • Termos uma causa, em vez de uma carreira;
  • Ter menos na terra para ter mais no céu.

As questões acima relatadas devem nos fazer refletir, levando-nos para uma nova direção. Nesta direção nós precisamos:
 
  • De novos desejos. Desejos voltados para o caminho que nos levará à vida eterna;
  • Que Deus mude nosso coração, retirando o coração endurecido e nos dando um coração de carne, voltado para Ele;
  • Crescer nos caminhos do Senhor, esquecendo-nos do antigo caminho da perdição. Devemos obedecer aos anjos e sair da perdição, sem olhar para trás (Gn 19.26);
  • Riscar o superficial mundano de nossas vidas, adicionando a ela o sobrenatural de Deus.

Essas atitudes serão capazes de nos mostrar que o caminhar com Deus é muito mais agradável que os caminhos mundanos. O mundo e o diabo nos oferecem um cardápio de identidades e missões interligadas que desviam o homem de Deus. O intuito dos afazeres diários e o corre-corre em busca do MAIS, tem o único objetivo de substituir Deus em nossos corações, nos levando para mais longe Dele e de Sua Palavra. Essa é a batalha árdua entre o nosso EU carnal e o Plano de Deus para nossas vidas. Perdemos o que de mais valor tínhamos: a comunhão com Deus. Precisamos renunciar ao MAIS que nos é oferecido para que o MAIS de Deus possa abundar em nós.
Temos que conhecer a vontade de Deus para nós, sendo que esta vontade está relatada nas Palavras da Bíblia Sagrada. Desde o início o Senhor vem revelando todo o seu plano de resgate, não para a nossa eternidade, mas sim para o convívio íntimo com Ele. Por isso, durante toda a história, muitos heróis da fé, que tiveram seus olhos abertos, conseguiram entender que, para Deus, o MENOS não necessariamente tornou-se problema. Isso porque, Abraão deixou para trás toda a sua parentela e seus bens, para tornar-se o pai de muitas nações; Moisés deixou as riquezas do palácio de faraó, para tornar-se o condutor do povo de Israel em direção da terra prometida; Jesus deixou a sua glória, para tornar-se o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
Quando entendemos o que Deus fez com todos os que tiveram seus nomes escritos no livro da vida, entenderemos que o MAIS de Deus não necessariamente é riqueza, mas sim uma vida plena e cheia da presença Dele. O MAIS com Deus é muito diferente do mais do mundo, pois é um mais pleno de vida e paz em meio às adversidades da vida. Mais com Deus é plenitude e riqueza sem limites, pois tudo o que tivermos nos foi dado pelo Criador dos céus e da terra e não pelo inimigo de nossas almas, que apenas tem o intuito de matar e destruir tudo o que Deus criou.
A oração de Agur nos mostra a consciência de uma pessoa que atingiu a plenitude do entendimento do relacionamento com Deus: devemos preservar a caminhada e comunhão com o Criador. Agur não pede riquezas, mas sim que seja livre dos perigos que desonram a Deus, tanto na pobreza quanto na riqueza. Tanto em um lado quanto em outro, perigos nos rodeiam e podem nos afastar de Deus. Isso porque, em pobreza, podemos murmuram e nos entristecer com a nossa sorte, afastando a alegria de servir ao Deus vivo. Estando em riqueza, esta irá corromper o nosso coração e passaremos a acreditar mais em nosso braço do que nas bênçãos de Deus. Portanto, Agur nos ensina a pedir a justa medida de Deus, para que possamos viver louvando-o e agradecendo-o por tudo o que temos e o que somos.
Devemos ser ousados o suficiente para fazer a oração de Agur. Se tivermos esta ousadia, com certeza Deus nos levará a um lugar de caráter e contentamento que nos permitirá sermos usados de maneira que Ele pretende. Passaremos a ser sal desta terra e luz para este mundo. Passaremos a anunciar a salvação com ousadia, sem nos preocupar com os afazeres desta vida humana.
Devemos estar dispostos, como Agur, a confessar a Deus:
 
  • Protege-me das mentiras sobre o que é meu e o que mereço;
  • Perdoa-me por acreditar em mentiras e negligenciar a tua Palavra;
  • Dá-me o que é preciso para me manter fiel;
  • Ajuda-me a discernir os desejos das necessidades;
  • Ajuda-me a ser grato pelo que tenho;
  • Ajuda-me a dizer não a mim mesmo de modo que possa dizer sim ao Senhor;
  • Ajuda-me a usar aquilo que o Senhor me dá para glorificar-Te;
  • Faze de mim um bom administrador das Tuas riquezas;
  • Retira o laço materialista para que eu possa ser um ofertante em Tua casa;
  • Ajuda-me a ofertar com regularidade e alegria para a Tua obra, de acordo com a Tua Palavra.

O homem que faz essa oração, a compreende e vive de acordo com ela, é Livre das amarras de Satanás e que nos prende ao materialismo deste mundo. Quando temos nossos olhos abertos e conseguimos andar conforme as palavras desta oração, vivemos segundo Paulo em Filipenses, capítulo 4, versículos 10 a 13:
“Ora, muito me regozijo no Senhor por terdes finalmente renovado o vosso cuidado para comigo; do qual na verdade andáveis lembrados, mas vos faltava oportunidade. Não digo isto por causa de necessidade, porque já aprendi a contentar-me com as circunstâncias em que me encontre. Sei passar falta, e sei também ter abundância; em toda maneira e em todas as coisas estou experimentado, tanto em ter fartura, como em passar fome; tanto em ter abundância, como em padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece”.

O homem de Deus se alegra da força obtida por ter a perspectiva de Cristo em sua vida. Supera a preocupação em relação ao seu estado na vida e a preocupação com relação à pobreza ou riqueza se tornam nulos em sua vida, pois irá conseguir andar conforme a vontade de Deus e não a sua.
Quando estamos conectados a Cristo, somos:
 
  • Mais agradecidos, menos estressados;
  • Mais concentrados no plano de Deus, menos concentrados nos nossos planos;
  • Mais interessados nas pessoas, menos interessados nas coisas;
  • Mais concentrados nos propósitos de Deus quanto a minha situação, menos focado no que estou perdendo;
  • Mais consciente do que é importante na vida, menos preocupado com o trivial;
  • Mais humilde, menos orgulhoso.

Conectados a Cristo, experimentamos uma nova vida, temos um novo propósito, uma nova perspectiva. Experimentamos o sobrenatural de Deus e nossos olhos poderão contemplar a Sua glória em nós.
“Novo” e “Mais” funcionam para alguns. Mas para o homem de Deus, o contentamento com o “Mesmo” tem o poder de transformar a sua vida e a das pessoas que estiverem ao seu redor para toda a eternidade. Deus quer nos dar uma vida sem limites, mas para isso, devemos confiar plenamente Nele, sem lhe dar “ajudinhas”. Devemos andar conforme a Sua vontade e não a nossa. Para isso, Agur nos auxilia a orar e a conhecer o que funcionou com ele, pois através deste conhecimento, soube andar sem MAIS e sem MENOS, mas sim no MESMO de Deus, que não é o mesmo do mundo.
Que Deus nos abençoe com esta palavra.


Eduardo dos Santos Santos




Nenhum comentário:

Postar um comentário